Com o intuito de acompanhar as constantes evoluções do setor farmacêutico hospitalar, a 8ª Jornada da Farmácia, promovida pelo Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (SINDIHOSPA), trouxe reflexões e debates sobre os desafios da profissão, principalmente em um contexto de atuação multidisciplinar. O evento fez parte da programação da Health Meeting, feira internacional de saúde, realizada até quarta-feira (4) no prédio 40 da PUCRS.
Para a coordenadora do Comitê de Farmácia do sindicato, Shirley Frosi Keller, que abriu a programação, “a boa gestão e a garantia de processos permitem o uso racional e seguro do medicamento. A jornada do medicamento inicia mesmo antes de chegar fisicamente ao hospital e é concluída na administração do medicamento ao paciente. O perfil profissional exigido do especialista em Farmácia Hospitalar é o multidisciplinar, unindo, algumas vezes, habilidades da carreira de farmacêutico gestor e farmacêutico clínico”, destacou.
Na primeira palestra do dia, o tema foi “Farmácia clínica em gestantes e puérperas", em que a farmacêutica clínica Marinalda Predebon, da área materno infantil do Hospital Moinhos de Vento, explicou sobre o uso de remédios em gestantes. “A tragédia da Talidomida, que causou malformações congênitas em dezenas de bebês, é um divisor de águas. Quando se está avaliando uma prescrição, a conduta é sempre tentar uma alternativa conversando com o médico, mas se isso não é possível, é necessário colocar na balança os riscos e os benefícios”, salientou. Outro ponto trazido pela profissional é a atenção dos farmacêuticos às alergias e a conciliação medicamentosa. “A nossa atuação tem que ser multiprofissional, junto dos enfermeiros e médicos. Não adianta fazer um controle impecável se não há segurança na administração dos medicamentos”.
Na sequência, um painel discutiu o uso de plataforma de gestão para os estoques das farmácias e a importância de os sistemas contribuírem para melhores atendimentos aos pacientes. A supervisora de farmácia responsável pelos serviços de Farmácia Clínica e hospitalar da Santa Casa de Misericórdia, Francieli Lazaretto, compartilhou experiências da implantação de sistemas automatizados para os estoques na instituição. “A ferramenta é inteligente, mas o farmacêutico precisa pensar também com inteligência e avaliar os itens, saber as particularidades de cada local”. Com a plataforma, Lazaretto explica que a assertividade da gestão e o maior controle do estoque aumentaram. “Reduziu as rupturas de estoque, trouxe maior controle de dias de estoque, o que faz com que as metas sejam atingidas mais rapidamente, faz com que a gente veja os excessos com mais clareza. Trouxe impactos positivos para os pacientes”, completou.
O sócio-fundador da GTPlan, Glaucio Dias, também participou do painel. Dias reforçou que o cenário dentro de uma farmácia hospitalar é complexo, mas com oportunidades e que o setor é um dos mais importantes dentro das instituições. “80% do tempo que se passa dentro de uma instituição de saúde, se precisa de um medicamento. No momento em que o paciente está com dor, é imprescindível que o remédio chegue de forma veloz e ágil. É nesse instante que se fideliza o paciente com a instituição. O farmacêutico é responsável por fazer a gestão desse estoque”, argumentou.
Inteligência artificial na saúde
Na sequência, foi abordada a atuação dos farmacêuticos na Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN). Com a apresentação da farmacêutica Ana Paula Souza, do Hospital São Vicente de Paulo, de Passo Fundo, foi possível entender os desafios dos profissionais da área. “Na nutrição parenteral, tudo inicia na seleção e padronização dos produtos farmacêuticos. Temos que estar sempre ligados ao setor de compras, de logística dos hospitais, estar sempre muito atento à assistência farmacêutica”, explicou. É atribuição deste profissional avaliação de prescrições de nutrição parenteral quanto à adequação, concentração, compatibilidade físico-química e a dosagem de administração.
A manhã teve ainda um debate sobre a inteligência artificial na saúde, com palestra do fundador da Connext Health Hub, Cristiano Englert, que avaliou que “a inteligência artificial vem para melhorar processos burocráticos e fazer com que se dedique mais ao paciente, no cuidado com o ser humano”. O painel teve como debatedores o CIO do Hospital Moinhos de Vento, Vitor Ferreira, o CEO da Care Intelligence, Fabricio Avini, e o pesquisador da No.Harm, Henrique Dias. Para Ferreira, é necessário olhar a tecnologia de forma mais natural. “Os profissionais que souberem utilizar a inteligência artificial se sobressairão frente aqueles que têm medo. A nossa discussão é de maturidade tecnológica”, definiu. Avini ponderou que a IA traz novos processos, mas que os profissionais devem estar atualizados. “Vamos tendo fases cada vez mais evolutivas em relação à integração, mas percebi que mesmo tendo novas fases, os hospitais vão ficando para trás. A IA sempre vai depender de um gatilho humano”, finalizou.
A 8ª Jornada de Farmácia ainda explorou os temas “Atribuições farmacêuticas na cadeia de fabricação e uso dos gases medicinais”, com Fabio Ramalho, do Hospital universitário da UFS/SP; “Gerenciamento de riscos e segurança medicamentosa: desafios e sugestões de segurança com medicamentos controlados e alta vigilância na área hospitalar”, de Elenara Ribas, médica intensivista; “Normalização de desvios”, com Shirley Frosi Keller, coordenadora do Comitê de Farmácia do SINDIHOSPA e “Cuidados paliativos em pediatria”, de Andréia Christine Bonotto Farias Franco, médica paliativa, e Solange Lima, farmacêutica, ambas do Hospital Pequeno Príncipe.
Fonte: Ana Capellari / Critério
Foto: Olga Ferreira
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